sábado, 6 de junho de 2009

Treze

Se você pudesse saber quem eu sou certamente me amaria. Mas desconfio que já me amas, por isso tratou de desaparecer. Fica mais fácil enganar o coração e se esquecer de mim. Personagem fantástico, que me encantou só pelo olhar que me lançou. Não penso em conhecer as linhas do teu corpo ou o gosto do teu beijo. Ou acabo por pensar? Creio que não me contentaria apenas com os seus lindos olhos, piscando, enquanto conversas comigo.

Eu sei, é tarde e amanhã precisamos trabalhar. No fundo não me importo. Peço mais uma cerveja. O álcool vai diminuir minha tristeza quando você se levantar e pegar as chaves do carro. Quem sabe me dá uma carona, mas acredito que você tem medo e quer distância. A cerveja começa a fazer efeito. Eu relaxo enquanto sua tese de doutorado entra em minha cabeça. Através das palavras começo a desejar percorrer teu corpo. O movimento dos teus lábios me guiam para o teu prazer. Acordo do meu delírio com você pedindo a conta ao garçom. Você se desculpa por ter que ir e eu não sei se é de verdade ou de mentirinha. Espero pela palavra mágica, mas você é mulher sabida e não vai se arriscar a me dar carona. Aliás, nem precisa. Moro tão perto daqui, que minhas noites quentes de verão serão sentadas na sacada com um copo na mão e música nos ouvidos.

Você sabe que gosto de você. Às vezes penso que faz de propósito. Levantou. Eu levantei. Me beijou na bochecha. E o seu até logo entrou surdo na minha alma. Qual a distancia daqui até a tua casa? – me pergunto. Certamente a distância até o teu coração. Meu olhar implora feito criança pequena me leva contigo. O teu, ah, esse teu olhar também troca com o meu a mesma súplica porque não vens comigo? Eu vejo em teus olhos. Eles brilham. Você atravessa a rua até o carro. Eu a observo se afastar.

Em um segundo fantástico, dou dez pro garçom e corro até você. – esqueci de te dizer uma coisa – vou logo avisando. O que? Você pergunta. Eu gosto tanto de você. Seus olhos parecem surpresos. Deus, pensei, talvez ela não tenha desconfiado. De surpresos eles passam a maternais. Juro que os vi ficar cheios d’água.

Ela entrou no carro. Fechou a porta. Eu a vi suspirar lá dentro. Ela abriu a porta e mandou eu entrar.