domingo, 9 de outubro de 2011

Uma viagem de sentidos

Eu tive a paciência de esperá-la até as sete horas da manhã. Dancei feito uma louca e passei parte da madrugada hipnotizada por ela. Lá pelas altas horas fui dormir no carro. Não agüentava mais e sabe-se lá o que poderia acontecer depois que ela saísse.

As sete e quinze ela saiu, meio trôpega, meio linda, carregando sua mochila e a pasta de CDS. O dia já estava claro e os pássaros cantavam. Largou as coisas no meu porta-malas e entrou no carro. Mesmo às sete e quinze da manhã ela estava provocante. Eu perguntei pra onde ela queria ir. E a resposta foi sensitiva e sensorial: ela me beijou loucamente. Não tive dúvidas e fomos pro meu apartamento.

Sapatos e roupas voando pela casa. Uma viagem de sentidos, beijos, cheiro e palavras provocantes. Ela estava fora de si e queria sexo. Queria gozar, me disse, queria gritar. É como se algo a consumisse por dentro e a salvação estava ali. Se lançou em cima da minha cama e puxou meu corpo junto do dela. Ela repetia sem parar que queria que eu a comesse enquanto gemia no meu ouvido e me deixava cada vez mais louca. Ela gozou sentada no meu colo de uma forma tão vibrante que desmaiou por cima de mim. Com dificuldade eu a empurrei pro lado para poder respirar. No ar um misto de suor, perfume marcante, sexo e álcool. A maquiagem dela borrou meu travesseiro. Adormeci com dificuldade sentindo o calor do seu corpo e sua respiração.


terça-feira, 20 de setembro de 2011

De volta.

Ela a viu através do vidro, atravessando a rua. Pensou: onde será que ela vai? Perdeu-se em pensamentos enquanto seus amigos lhe perguntavam sobre a aula de ontem. Inventou qualquer coisa, sorveu lentamente o seu champagne. Será que as nuvens traziam frio ou chuva? Em mais alguns minutos a noite chegaria com a sua escuridão.

Passou a fitar a rua com um misto de curiosidade e.... impaciência. Pelo quê ansiava? Minutos depois, muitos minutos depois, ela voltou. Trazia uma caixa de papelão e aguardou a sinaleira fechar. Atravessou a rua e mais uma vez aguardou a sinaleira fechar. Olhou para um lado, olhou para o outro e atravessou. E agora, ela pensou? Levantou de sua mesa, balbuciou algo e saiu do café. Caminhou um pouco mais rápido até alcançá-la.

- Camila. Te vi passando agora. Posso te ajudar?

Camila, como se já esperasse pelo encontro desencontrado, nada lhe disse. Apenas lhe passou a caixa. Bruna percebeu morangos ali dentro. E outros itens que sugeriam um supermercado. Claro, ela havia ido ao supermercado.

- Então fazemos assim – disse Camila – tu levas um pouco e depois me devolve. Não está muito pesada mesmo.

Totalmente à vontade, era verdade. A calça de moletom, os tênis e o casaco esporte a deixavam com um ar despojado. Bruna não pode deixar de notar.

Descobriu que ela morava próximo dali, algumas quadras talvez. Contou que a viu atravessando pela primeira vez e que tomava um champagne com os amigos, na boulangerie française da esquina.

Camila não quis demonstrar surpresa. Não quis demonstrar nada, na verdade. Há não ser desprendimento, despojamento. Subiu a rua carregando a caixa enquanto ouvia o som da voz de Bruna. Na frente do edifício agradeceu. Despediu-se com um beijo na bochecha, próximo de seus lábios, mas tão próximos, que Bruna sentiu sua respiração.



sábado, 24 de julho de 2010

Bring me back

Ela olhava as estrelas no céu. E se perguntava: o que é o amor? O amor, diziam as pessoas, é aquele sentimento que corroí a gente por dentro; é aquilo que nos faz mudar uma vida pela pessoa que a gente ama. É mais: é direcionar todas as nossas forças para o bem comum. Quando o amor acaba? Isso as pessoas não sabiam responder. Não sabiam mensurar, nem em que direção seguir. E a pergunta que ela se fazia é: ele realmente acaba?

Deitada no chão, contemplando as estrelas, ela chorava. E pensava no seu amor. Pensava sem parar nos últimos abraços, nos últimos afagos, no ultimo sexo sem saber, realmente, que eram últimos. Relembrava cada detalhe daquela convivência de quase uma vida enquanto as lágrimas banhavam seu rosto. A lembrança que mais doía era aquela de envolver o corpo da amada nas noites de frio, de protegê-la dos pesadelos noturnos e de mimá-la ao amanhecer.

Um dia, perdido no passado, o amor bateu na sua porta. Veio disfarçado de amizade, se é que isso era possível. Preencheu sua vida com novos problemas, com novos desafios, com novas convivências. E um dia, sem avisar, foi embora. O amor fez as malas e saiu pela porta sem ao menos se despedir. E como seria dali pra frente? Porque quem partiu foi sua amada e não ela própria. Ela, deitada no chão, procurava órion no céu. Lembrou-se, de repente, que era inverno e que o guerreiro estelar só surgiria no horizonte ao amanhecer. E da mesma forma que ela esperou órion no horizonte, desejou que sua amada voltasse para casa, com um vaso de flores e um sorriso no rosto.

E adormeceu com a sensação de que o tempo voltaria e de que teria sua amada novamente nos braços.

You will remember when this is blown over,
And everything's all by the way,
When I grow older,
I will be there at your side,
To remind how I still love you
I still love you
I still love you

terça-feira, 13 de abril de 2010

Marguerita

Era mais um daqueles chatos encontros de casais: todas elas estavam apaixonadas e insuportáveis, vertendo mel pelos poros. Carla me levou porque não tinha quem mais levar. Estávamos há um tempo só de rolo, mas Carla, que era uma menina boa de coração, achava que estávamos namorando. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde quebraria o coração de Carla.

Chegamos e a mesa já estava praticamente composta. Com exceção de Juliana, não conhecia mais ninguém. Mas belos olhos azuis me chamaram a atenção e poucos segundos depois meu olhar captou que aqueles olhos azuis não tinham companhia. Ou a companhia havia sido subtraída da mesa misteriosamente ou os belos olhos azuis estavam desacompanhados.

A conversa rolava de forma agradável embora tediosa em minha opinião. O que eu queria mesmo era sentar ao lado de Ana - sim, os olhos azuis ganharam uma identidade - e conversar. Eu a olhava sem parar e ela me retribuía o olhar de forma quase adolescente, sem saber onde se meter naquela mesa.

E Ana foi ao banheiro e convidou irresistivelmente alguém para acompanhá-la. Lá me fui enquanto Carla se divertia com as histórias que eu não agüentava mais ouvir.

Fui agressiva, confesso. Esperei Ana se dirigir a pia e enquanto lavava as mãos, perguntei se poderia beijá-la. Assim, ali mesmo, na maior cara de pau. Completei que não namorava Carla. Era só um quebra-galho ou sei lá o que eu disse no momento. Ana me olhou por um momento e sem dizer palavra tocou meus lábios. Em seguida me deu o beijo mais maravilhoso que eu poderia receber. Shiiii, disse, a Carlinha não pode saber. Nada respondi por que Ana se foi. E eu saí em seguida e fui contar a Carla que havia descoberto que Ana estudara na mesma escola que eu e tínhamos amizades em comum. Mentirinha, claro. Mas pude me sentar de frente à Ana para papear e por alguns minutos a terra parou.

Carla me chamou. Íamos embora. Mas consegui, triunfante, telefone e email de Ana. Não me entenda mal. Carla era uma excelente garota e tinha os mais belos seios que eu já havia visto. Mas o magnetismo do olhar de Ana me atraiu de tal forma que não pude resistir.


quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Lustres.

Eu sempre a ajudava. Desta vez eram os lustres. Ela queria alguém para instalar os benditos lustres.

Era sábado de tardezinha e passei na casa dela. Era um novo endereço. Novos ares, ela me disse. O céu preparava uma bela tempestade e eu me preparava para vê-la. Mãos naturalmente suadas. Corpo enrijecido.

Pendurada no alto da escada e com o auxilio de uma lanterna eu a ouvia. Ela falava de um problema especifico do trabalho que eu mal ouvia. Mas eu a amava. Amarrei os fios, pendurei o lustre. Deus, como era lindo. Não, não era o lustre. Era a composição da silhueta dela contra a claridade do lado de fora da janela.

Ela me procurava sempre quando eu estava solteira. E às vezes quando eu estava acompanhada. Sabia como me seduzir e sabia que eu iria aceitar. Eu certamente a amava. Mesmo com toda aquela cretinice eu a amava.

Noites seguidas eu sonhava com seu corpo. Noite seguidas eu sonhava em beijar seus lábios. Mas era de manhã e eles desapareciam. Assim como seu corpo escapava de mim lentamente depois que fazíamos sexo e ela ia embora.

Seus olhos eram penetrantes e me guiavam. Curtíamos os momentos mais agradáveis de minha vida, enquanto eu a amava e me arrependia de estar sempre de guarda baixa quando ela se aproximava. Sua pele macia se enroscava na minha e passávamos a noite acordadas beijando nossos corpos, conversando, fazendo sexo.

Deus, o que dizer?


quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Casual.

A vontade que eu tinha era de lamber aquelas pernas. Deixá-la toda molhada enquanto beijava seus lindos seios espraiada no meio de suas pernas.

Não são todas as mulheres que despertam esses insanos desejos. Mas as que despertam o fazem de tal forma que o impulso é quase impossível de controlar. Eu diria que é um impulso enlouquecedor. Algo animalesco. Qualquer coisa entre instinto e selvageria, possivelmente permeados por algo que nos torna ingenuamente humanos.

Foi o que aconteceu quando a vi. E quando, acidentalmente, me sentei ao seu lado. Teria sido um movimento acidental ou completamente premeditado? Fechei os olhos e só conseguia me ver como atriz de uma peça entre o erótico e a chanchada, entre o prazer e o ônus de se estar no meio daquelas pernas. E lá me fui, em busca do objetivo primordial daquela ação tão casual.

Seu olhar enquanto conversávamos era, no mínimo, curioso. Talvez ela ainda não tivesse percebido minhas intenções. Mas, de alguma forma, eu sentia que era isso que ela queria. De outra forma, como disfarçar meu olhar tão penetrante e intrusivo?

Ela dividia o quarto com uma amiga. Acabamos indo para o meu. Tive dificuldade para abrir a porta porque me distraia com a excitação do momento. Ao entrar já a tinha em meus braços e antes de fechar a porta a beijava apaixonadamente. Minutos depois satisfazia meu desejo de beijá-la e lambe-la. Sobretudo entre aquelas belas pernas. Seus gemidos ecoavam pelas paredes do quarto. A madrugada fluiu entre bocas, pernas e gritos.

Ela deixou os brincos. Enquanto arrumava minhas malas pensei se a avisaria ou não. Certamente ela sabia que os havia deixado ali. Os deixou de lembrança? Ou os esqueceu simplesmente? Decidi que não levaria lembranças. Ao fechar a porta os deixei ali, em cima da pia. Lembranças não seriam levadas. Não deveriam, nem poderiam ser levadas. Jamais nos veríamos novamente.




segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Tempo.

Sabíamos que o tempo era curto. Era curto, apertado e pequeno diante de tanto desejo. Seus lábios me beijavam com pressa. Com pressa também suas mãos me tocaram e senti que estavam geladas. E suadas. Fazia frio naquela manhã, mas isso não impedia que suas mãos suassem. E era de nervoso. Encostada na parede eu tentava acompanhar seus movimentos com a mesma pressa. Eu sentia a sua respiração quente em meu rosto e seus odores que eu nunca havia sentido tão próximos. Via a sua pele com uma clareza nunca vista.

Na confusão do momento, mal sei como, espalhei seus papéis sobre a mesa; papéis e livros, tudo misturado. Assim como nós. Duas almas vagantes pelo espaço que se encontravam no curto espaço de um intervalo. Tão curto tão desejado.

Fazíamos silencio porque era necessário. Era necessário se recompor depois, rostos sérios perdidos na frieza congelante da academia. Apenas o som de nossa respiração ofegante enchia a sala.

Logo senti suas mãos abrindo minha calça. O que seria depois? Minha cabeça pouco entendia.