domingo, 28 de dezembro de 2008

C’est fini

Suas mãos suavam. Seu coração explodia. O que ela mais queria era encontrar ela e olhar em seus olhos. Seus lindos olhos. Os sinais são muito claros: é paixão. E enquanto ela pensava nisso viu quando ela desceu as escadas e veio em sua direção. E ela pensou meu deus como ela é linda. O mundo parou por alguns minutos. E ela se sentiu profundamente feliz e tranquila. O que ela mais queria era tomar sua mão entre as suas. Era conhecer seu corpo como ninguém. Era ouvir a sua voz que, de repente, transformou-se na melhor coisa que ela já ouviu. Mas essa moça apaixonada tenta dizer as coisas pelo olhar. Ela teme falar as palavras porque teme a reação dela. Teme a indiferença e tantas outras coisas. Medo todo mundo tem. Mas quando essa moça apaixonada se encontrou com a sua paixão todo o temor desapareceu por algumas horas. O medo da mudança, da solidão, da transformação, e o que mais mata ela, o medo do futuro. E das escolhas erradas.

Mas nem tudo são flores. Tudo muito confuso, tudo muito rápido, o doce e o amargo em uma brincadeira onde o vencedor já era esperado. O amargo da boca numa tarde quente de domingo era bastante significativo e teimava em não desaparecer. E mostrava o vencedor.


quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Eu Te Amo

Enquanto eu descia as escadas ela gritou furtivamente palavras que ecoaram longe em meus ouvidos: eu te amo.

Parei onde estava. Ouvi a porta se fechando. Obviamente era uma manobra; ela queria que eu voltasse para seus braços. Mas tinha coisas a fazer e precisava mesmo sair.

Seria uma manobra mesmo? Ali, parada nas escadas me perguntei qual o sentido daquela frase. Pensei ter ouvido a porta se abrir novamente, bem de leve, como se ela estivesse espiando por entre a fresta vendo se eu voltava ou não. Mas eu continuava ali, parada. Resolvi não voltar. Precisava mesmo era me fazer de difícil, afinal, já estava ali naquela situação há dois meses.

Havíamos nos conhecido em uma livraria. Esbarrei nela duas vezes e, na segunda, quase deixei um livro cair sobre sua cabeça. Estávamos na seção de culinária. Eu procurava avidamente por um livro de Sushi. Ela, bem, ela olhava com olhares críticos tudo o que via e eu não imaginava que conheceria seus dotes culinários tão bem como vim a conhecer.

Se não bastasse nos encontramos no caixa. E depois, novamente, na fila do cinema. Estava sozinha e disse-me que tinha reservado o dia apenas para si; me contou que absorvia a energia das pessoas ao seu redor e quando queria desopilar o fígado ou saía sozinha ou ia para o meio do mato. Não pude me conter e disse um patético ‘que bom que preferiu sair sozinha’. Claro que uma deixada como esta suscitaria dúvidas e ela logo perguntou o por que. Tentei rodear, mas não pude me conter. Porque gostei de você e se tivesse escolhido o mato não haveria de te encontrar. Ela, muito resoluta, deu seu ingresso para um casal na fila da compra e me convidou para tomar algo.

E assim nos conhecemos. Meio novelesco ou não, o fato é que nos víamos com freqüência e com desejo cada vez maior. Jamais me esquecerei da primeira vez em que a tive nos braços. Foi uma sensação tão especial que me preencheu por completa e não pude deixar de notar como ela era perfeita em quase tudo.

Dentro do carro pensei no Eu Te Amo. O que significaria isto? Um amor para toda a vida? Algo passageiro? Amor, o que haveria de ser? Relacionamentos longos não eram meu forte: nunca tive muito sucesso em manter relações, especialmente com mulheres. As desejava loucamente, mas não conseguia as manter próximas por longos períodos de tempo. Não sei, algo de pele talvez.

Mas ela parecia ser do tipo insistente.

Naquela noite resolvi preparar algo especial. Estudei avidamente o livro de Sushi que estava na prateleira já a algum tempo e sai para comprar os ingredientes: as folhas de alga, os recheios e um macarrão para um pequeno yakisoba. A chamei para curtir uma noite no oriente. Ela riu.

Minha experiência culinária foi desastrosa. Nada saiu direito com exceção do yakisoba – esse já era cliente da minha cozinha. Mas o melhor foi a sobremesa. Não, não vou cair na pieguice de dizer que sobremesa seria ela.

A sobremesa foi uma conversa séria e maravilhosa sobre o Eu Te Amo. Eu não tinha dúvidas que sentia algo muito forte por ela. Ela, sempre resoluta, repetiu o que eu havia ouvido na escada. Não uma, mas várias vezes.

Meu coração só faltou pular de tão feliz.


sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Ella Fitzgerald

Era claro que o vinho era seco. Eu o sentia grosso, forte, descendo pela garganta. Cada gole era maior que o outro e a garrafa terminaria logo. Bebia recordando os momentos que não vivi, as saudades que sentia por não ter conhecido ela. A trilha sonora era, obviamente, deprimente. Escolhi o que havia de pior: lamurias em forma de música, que retorciam meus sentimentos e me deixavam ainda mais melancólica. Ao final da garrafa já estava sentada no chão, encostada no sofá. Cantava Cry me a river, I cried a river over you tentando superar Ella Fitzgerald sem sucesso. Lembrava-me claramente de suas palavras em algum dialogo perdido no tempo "não podemos" "não temos esse direito" ou o simplesmente "não é certo". Minha cabeça rodava com aquelas palavras e me lembrava das tantas insinuações que ela havia feito quando conversava comigo. Sorria até não poder mais, mexia comigo e dava umas piscadinhas que me deixavam louca. Sem contar, claro, que me sentia entre o céu e a terra quando estava próxima dela.


De repente, me peguei pensando numa música que ouvira certa vez e que dizia algo como bater na casa da pessoa completamente nua. Tentei me lembrar que música era e achei que era a mesma que dizia algo sobre jogar uma pedra na janela. Algo não fazia sentido, mas gastei bons minutos pensando que situação inusitada seria esta. Eu sabia onde ela morava. Poderia pedir asilo em sua casa ou poderia esperar por toda a noite na frente do seu prédio só para provar que era sim possível.

Em meio a todos os meus pensamentos ouvi uma campainha tocando. No começo não me dei por conta, mas logo percebi que era ali mesmo, em casa. Levantei-me, com dificuldade, admito, e abri a porta. Era ela. Não, não ela propriamente dita, mas outra ela, uma vizinha bastante simpática do andar de baixo. Conhecemos-nos quando ela se mudou e eu a ajudei a subir umas coisinhas em troca da visão privilegiada que tinha de seu corpo. Ela trazia uma garrafa de Absolut debaixo do braço e perguntou se eu tinha companhia. Meu espírito de porco pensou que diabos ela faria se eu dissesse que estava fazendo sexo loucamente com duas meninas no mezanino. Quase falei, mas me segurei e a fiz entrar. Não pensava muito bem, por efeito do álcool. E ela trazia mais!

Ela barrou a Fitzgerald. Eu insisti. Sugeriu uma seleção de músicas de balada. Eu falei que não tinha. Ela olhou pra Ella, pra Piaf, pra Aretha e pro Sinatra. Passou pela Diana e pela Madaleine. Olhou com cara de que você só pode estar brincando e, de repente, me pediu pra esperar. Desceu. Quando voltou parecia a Marylin Monroe de vestidinho branco super acinturado e com um baita cabelão. Não sei como se transformou tão rápido. Coloquei a Ella no maior som e dançamos como nos filmes antigos.

Ficamos ali um bom tempo. Não sei em que parte da noite fizemos o strip tease nem em que parte quase colocamos fogo no apartamento. Mas me recordo do seu colo macio e de seu perfume suave. Me recordo principalmente do seu corpo próximo ao meu quando me acordei, com forte dor de cabeça. Não, não pense que havíamos feito sexo selvagem até o amanhecer. Simplesmente dormimos e, de certa forma, o acaso do destino me fez perceber que a Ella era insuperável para conquistar corações.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

No Embarque.

Conheceram-se no aeroporto na sala de embarque. Dizem que as pessoas se atraem pelo cheiro das outras mesmo que não sintam. Verdade ou não, o fato é que realmente o perfume dela era muito bom. Isso com certeza chamou a atenção dela quando ela sentou do lado dela. Felizmente o vôo deveria sair no horário e a espera não seria grande. Moravam na mesma cidade, coincidentemente quase no mesmo bairro. Como não tinham quem as buscasse no aeroporto combinaram pegar o mesmo táxi e rachar a despesa. Não seria mal algum. Para uma delas seria sim um grande prazer.

Os minutos se passaram e as pessoas passaram a se aglomerar na sala de embarque. Nem sinal da abertura dos portões, nem avião, nem um aviso de atraso. Ouviu-se dizer que o tempo em Porto Alegre estava bastante encoberto e ruim. Ouviu se dizer também que um vôo no dia anterior havia retornado devido ao mau tempo. Ali o final da tarde era lindo em comparação com o tempo que as poderia estar esperando em Porto Alegre. Como nada acontecia bateu uma sede e uma fome. Próximo da sala de embarque havia um café e se sentaram ali para bebericar algo. A conversa fluía e Camila começava a desejar Andréia. Falavam sobre tudo: trabalho, gostos, amor. Camila começava a pensar em sexo. Pensava em música também. Pensava no corpo de Andréia, em como deveria ser lindo e imaginava também o desenho de seus seios.

Finalmente houve a chamada. Levantaram-se e foram em direção ao portão. Despediam-se combinando se encontrar novamente no salão de desembarque em Porto Alegre. Camila se sentou e quando viu Andréia estava poucos bancos à frente. Riram. Estavam bastante próximas da mesma forma que haviam estado próximas na sala de embarque quando ainda eram estranhas, da mesma forma que estavam próximas enquanto tomavam um café. O sujeito ao lado de Camila disse que poderia trocar de lugar com a amiga dela se ela quisesse. Camila ficou radiante enquanto chamava Andréia. Agradeceu de coração aquele sujeito simpático.

O avião decolou e Camila e Andréia estavam lado a lado. Andréia bastante cansada acabou por cochilar. Camila tomava notas em seu bloquinho.

Ao chegarem Camila sugeriu jantarem em algum lugar. Andeia ainda cansada declinou o convite, mas, pensando melhor, disse que poderia fazer uma massa em sua casa. Gostava de cozinhar e preferia ficar em casa naquela noite.

Malas em suas respectivas casas, banho tomado, Camila desce até o endereço de Andréia. Das escadas já sentia o cheiro agridoce da comida sendo preparada. Na mesa uma garrafa de vinho e duas taças.

O encontro parecia mágico. Camila não podia deixar de notar os detalhes da casa de Andréia que tanto revelavam sobre sua pessoa. Enquanto ela falava, Camila percorria suas prateleiras de livros e suas estantes de CD’s pensando que espécie de pessoa era aquela que conciliava Maria Callas com Nirvana.

As visitas se tornariam freqüentes a partir daquele momento. Entre elas cresceria o desejo e o amor.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

The first time lesbian sex

Poderia ter sido ma-ra-vi-lho-sa, se não tivesse sido um desastre minha primeira vez como lésbica. Mas eu juro que não vou abandonar essa vida assim, só porque a primeira experiência foi ruim. Não é que eu tenha escolhido a moça errada. Ela era bonita, inteligente e brincalhona. Também tinha um corpão e a junção do interior com o exterior formava um belo par. E como beijava bem. Cada vez que seus lábios chegavam aos meus traziam consigo um desejo tão grande que me deixava toda-toda. Mas quando começamos a tirar a roupa e eu me deparei com um par de belos seios, parei a primeira vez. Nunca havia visto um par de seios desta forma, assim, durinhos e empinadinhos para eu tocar. Compreende? Foi meio que um susto e me recobrei dele alguns segundos depois. Os toquei e beijei e senti como era bom. Ela com certeza era uma moça de experiência, mas não sei o que lhe aconteceu. Foi beijando minha barriga em direção as minhas pernas, voltou novamente para meu pescoço e, de repente, encaixou sua coxa no meio de minhas pernas. Continuava me beijando. E eu começava a pensar seriamente sobre a minha condição de lésbica iniciante. Tive vontade de perguntar o que estava havendo. Mas achei que não deveria. Ela remexia com força e vigor e eu começava, com um pouco de boa vontade, a sentir algo no meio de minhas pernas.

Eu tentava toca-la, mas sentia que sua fome era maior que a minha e minha participação não foi muito maior do que retribuir seus beijinhos. Eu não sei em o que ela fez, mas, tudo parou assim, de repente. Ela deitou-se do meu lado, beijou minha testa e ficou ali, calada. Deus, pensei, seria o momento perfeito para acender um cigarro e relaxar. Ao menos, se eu fumasse...

No dia seguinte ela me ligou. Perguntou se eu queria fazer algo com ela. Educadamente eu disse que não. Pensei que eu não suportaria outra experiência como aquela sem que eu mesma tivesse alguma experiência. Naquela noite sentei na frente do computador e me empenhei em encontrar um manual para lésbicas. O mais próximo que cheguei foram contos eróticos aparentemente escritos de mulheres para mulheres - lésbicas, obviamente. O chocolate foi meu fiel companheiro durante minhas horas de iniciação teórica à experiência lésbica.

Senhores, minha próxima experiência não seria ruim. Voilá! Faltava apenas conhecer quem seria a vítima das minhas experiências sexuais, na tentativa de me transformar em uma lésbica arrebatadora de mentes e corações.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Olhos.

Ela fala para todos, mas olha somente em meus olhos. Poderia ser uma estratégia de segurança em público se não tivéssemos feito sexo algumas horas antes.
Seus olhos revelavam uma cumplicidade que eu nunca havia visto. Não demoraria muito para que as pessoas percebessem nossos olhos brilhantes uma para a outra. Mas pouco me importava. Eu a amava.
Seu olhar me hipnotizava e eu não podia desviar. Ainda não acreditava que horas antes havia beijado seus lábios e olhado tão profundamente em seus olhos. Em minha cabeça repassava cada minuto que havíamos passado juntas e cada vez que me lembrava de seu corpo sentia borboletas no estômago.
Eu não sabia o que aconteceria em seguida. Se nosso encontro carnal teria sido apenas coisa de momento ou se eu poderia alimentar minhas ilusões de tê-la.
Eu estava ansiosa para amá-la e conhece-la.

sábado, 1 de novembro de 2008

Classificados Dra. Gô

Procura-se namorada:
que não seja estovada,
que queira ser tomada,
que ame ser amarrada.

Procura-se uma companhia:
que ande loucamente,
que faça sexo ardente,
e que queira comer livremente.

Tratar diretamente com a Luísa
menina de cabelos curtos e olhos escuros
pele clara, dente branco
na rua dos perdizes, 56.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Lembranças.

Ela tinha dois filhos. Tinha também dois ex-namorados, um deles ex-marido, pai dos filhos. Nos conhecemos durante uma discussão ideológica que logo descambou para uma conversa pessoalógica. De Marx para o tango; de Durkhein para MPB; e a cartada final: de Hobsbawn para a gastronomia. Já sentia seu olhar sobre mim há certo tempo. Tampouco me preocupava com isso. Mas a discussão foi o ponto de partida. Em determinada altura, muito séria com seu copo de café na mão, ela perguntou: namora? Que pergunta capciosa, pensei. Não titubeei. Não mais me esconderia. Respondi então: Não mais. Terminei com uma menina faz alguns meses. Juro que nesse momento vi seus olhos brilharem. Sua reação não poderia ter me causado maior surpresa. Disse ela: janta comigo um dia destes? Claro, respondi.

No princípio era só a conversa. Pouco depois esperávamos as crianças dormirem. E, a partir dali, conhecia seu corpo de mãe antes dos trinta. As suas intenções eram dignas de respeito. Cansada de homens, em busca de diversidade e, porque não, novas experiências. Não era de todo quadrada: suas diversas tatuagens mascaravam seu corpo nu. O piercing que carregava na língua era, certamente, modernozo. E sabia, como sabia, aproveitar todas as possibilidades na cama.

Os dias eram longos. A noite começava tarde e terminava antes das crianças acordarem. Eu ia embora, embora ela, às vezes, ainda dormisse. Queria vê-la acordar de manhã, quem sabe tomar um café na cama. Mas isto não acontecia. Éramos reféns das sombras e delas não saiamos.

Não era bem amor, talvez um pouco de paixão, não sei. Em verdade, houve pouco tempo para se pensar sobre isto. Não que o affair tenha sido rápido. Não foi. Eu diria que nunca evoluiu. Mantenho a lembrança de seu bafo quente em minha nuca enquanto sentia seus seios em minhas costas. Lembro também de seu perfume e do gosto do seu beijo.

sábado, 18 de outubro de 2008

Dois Dias antes...


(no telefone)

- Isto foi totalmente desnecessário.
- Eu sei.
- Não deveríamos ter feito.
- Concordo.
- Agimos levadas pelo instinto. Deveríamos ter pulado fora.
- concordo.
- Mas eu não me arrependo.
- Também não. Posso dizer uma coisa?


(dois dias antes)

Se encontraram para resolver os problemas do antigo apartamento. Era necessário se desfazer de alguns móveis e entregar as coisas emprestadas da Ana. A conversa ia e vinha e não se podia deixa de notar como ela estava sexy naquela roupa de trabalho. Ela também havia notado que os olhos dela não paravam de olhar. Fazer o que? Fingir que não viu?

Mas o desejo é coisa séria. E as atingiu em cheio. 'deixa que eu te ajudo com isso' ela disse. Ela retrucou 'não precisa' mas ai ela já estava praticamente em cima dela, ajudando com aquele negócio grande e pesado. Os olhares foram instantâneos. A cumplicidade de momentos já vividos falou mais alto e a proximidade dos corpos exerceu uma atração irresistível.

O chão era duro e machucava os joelhos. As roupas já pelo chão formavam um caminho que iniciava na sala. terminou no quarto onde o velho colchão andava encostado na parede. Ali não haveria machucados. nem joelhos nem cotovelos mais sofriam com a suavidade de um colchão nas costas e um corpo feminino em cima dela. Os beijos eram quentes e desesperados, as mãos não tinham mais por onde andar. Os seios dela massageavam as costas que ela exibia deitada de bruços sem preocupação com o tempo e o espaço. escureceu. Na penumbra de noite dois corpos se amavam.

(no telefone)

- Fala.
- Faria de novo.
- Eu também.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

No Coletivo.

A primeira coisa que vi quando ela passou na catraca foram os sapatos. Que sapatos. Uma mulher para usar sapatos como aqueles deveria ser muito original. E ela logo sentou ali, pertinho de mim, de modo que eu a podia ver enquanto olhava despreocupadamente para o lado como se não quisesse vê-la. Mas eu queria.

A segunda coisa que notei foi sua boca. Linda. Minha vontade instintiva era de pular do banco e agarrar aquela boca com meus dentes e língua e percorre-la centímetro por centímetro. Lábios grandes e bem desenhados faziam um belo conjunto com os sapatos. Ah, os sapatos...

Por minutos me distraí. Ao invés de ter pensamentos levianos sobre a vida me encarreguei de pensar o ato de amor. Sim, poderia amá-la eternamente beijando o meio de suas pernas, seguindo por seus seios e terminando em seus lábios. Poderia recomeçar por sua nuca, descendo suas costas até as pernas e conheceria os pés que andam naqueles sapatos. Talvez o melhor seria conhecer não só os pés e o corpo que andava com aqueles sapatos e tinha aqueles lábios. Provavelmente me apaixonaria pela mente que anda de sapatos tão originais que me identifiquei e me apaixonei por ela em um segundo.

E ela me olhou. De cima a baixo como a olhei. Juro que poderia sentir seu perfume e seu calor. Não resisti e disse "que belos sapatos". Ela sorriu e deu uma piscadinha. Mas lá foi ela embora e me consolei com a promessa de encontra-la mais uma vez.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

No Divã.

A verdade é que as sessões tinham pouco de terapia – e muito de feeling no ar. Joana não ia mais ao consultório de Juliana apenas para se queixar de seus problemas existenciais. O entendimento entre paciente e médico havia há muito extrapolado o limite real entre duas pessoas descompromissadas. Havia sim ultrapassado o limite e as sessões haviam mudado bruscamente.

Joana mantinha seu horário como sendo o último, uma vez por semana. Juliana dispensava a secretária mais cedo e aguardava a chegada de Joana. No início a conversa fluía em um caminho só: os problemas de Joana eram a chave de todo o processo. Aos poucos Juliana foi se envolvendo de forma diferente com Joana de modo que, no início, eram apenas carícias e um desejo latente, mas não consumado, de se amarem profundamente.

O fato é que, em um belo dia, Joana tomou a dianteira. Foi armada para a sessão com um poderoso modelito que realçava suas belas curvas e seu rosto de menina. Não só dominou a sessão como tomou as mãos da bela doutora entre as suas. Deitada no divã, Joana olhava Juliana profundamente em seus olhos. A latente necessidade de se enxergarem fez com que Juliana se sentasse de frente para Joana de modo que pudesse observar e escutar seus mais leves movimentos.

Com as mãos de Juliana entre as suas Joana se levantou e arriscou uma aproximação maior. Era capaz de ouvir o baque surdo do coração de Juliana batendo fervorosamente em descompasso com sua respiração acelerada. Seria capaz ainda de atravessar os olhos de Juliana e olha-la por dentro como se fosse a primeira vez.

O beijo, tão aguardado e tão procrastinado até então foi desesperado e agressivo. O divã tornou-se pequeno e o tapete do piso serviria aos propósitos desejados. Desejo, enfim, libertado e a tanto guardado explodia naquela quarta-feira, sete horas da noite.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Andando nas Nuvens

- Marcinho, tenho que te falar uma coisa.
- O que é?
- A Alessandra é lésbica.
- O que?
- A Alessandra é lésbica.
- Que papo é esse? Tá louca?
- To não. Eu mesma vi.
- Viu o quê?
- Vi ela beijando outra mina.
- Não sei não... porque na hora do paga pra capar a coisa muda de figura. Conheço aquela ali....
- Conhece, é?
- Conheço sim, por quê?
- Porque sei que ela anda gostando bastante do tratamento que to dando a ela.....

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A Primeira Vez.

(No Café)

"Ando tão carente. Nem acredito que falo isso pra você. É tão íntimo e, sei lá, vergonhoso ao mesmo tempo".
"Ainda com problemas com o Nestor?"
"Mais do que nunca. Ele sequer me olha. É como se não tivesse nada do meu lado".
"Gostaria que fosse feliz".
"Se fosse, provavelmente não lhe conheceria. E isso foi uma das coisas boas que a vida me trouxe".


Neste momento ela pousa a mão sobre a minha. Não tinha contato físico com ela a um certo tempo. Apesar de haver um feeling no ar e nos encontrarmos frequentemente era ela que ditava os gestos. Acima de tudo eu não a desejava como amante. Gostava de emprestar minhas orelhas aos seus conflitos de mulher aos quarenta muito mais que beber seu sexo. O telefone toca. Ela atende. Olho ao redor e percebo as pessoas sentadas envolta de nós. Precisávamos de isolamento. Deus, como queria parar o tempo.


"Que tal ir pra praia? O apartamento está arrumado". Ela diz.


Dirigiu em silêncio. Pousava de quando em quando sua mão em minha coxa. Ao chegarmos foi trocar de roupa. Intencionalmente ou não se trocou na minha frente sem nenhum pudor. Não queria que eu a tocasse, queria apenas se sentir desejada. E saimos para caminhar.
De frente para o mar o calor do seu corpo passava para o meu e seu perfume se misturava ao cheiro do mar que o vento trazia.


Anoiteceu. Velas acesas e luminárias deixavam o ambiente mais íntimo. O cheiro da sua comida dava vida ao lugar. Estava feliz. Cantarolava uma música e bebia seu vinho preferido. Conversamos por muito tempo e o frio levava nossos corpos a proximidade. De repente ela se calou. Largou o cálice na mesa e puxou minha mão.


A cama tinha lençois limpos. E macios. A sensação de deitar neles era maravilhosa. Mais do que isso sentir seu perfume forte e sua pesença ali era quase um êxtase. Seu corpo quente próximo ao meu traduzia o ponto de partida entre o fim e o começo. E adormeci em seus seios.