sexta-feira, 22 de maio de 2009

A Pedido.

Encontravam-se sempre as quintas-feiras, depois do trabalho. Comiam qualquer coisa e tomavam banho por lá mesmo. Mas de uma coisa ela nunca se esquecia: de pedir para a outra estar maravilhosa. Os encontros duravam a noite toda. Despediam-se ao amanhecer em algum ponto da cidade. Conheceram-se assim também, em algum ponto da cidade.

Mas naquelas noites maravilhosas certos tabus nunca eram quebrados; certos silêncios nunca ultrapassados. O limite havia sido estabelecido pelo não falar, pelo não agir. Havia um certo não limite na sua delimitação que o conduzia ao total limite.

Certa noite, após amá-la com todo seu coração, ela achou que era a hora de quebrar o silêncio. Deitada na cama ela contemplava a outra, deitada de bruços com as coxas cobertas pelo lençol. Disse ela que deveriam se casar. E se calou. A outra não se mexeu. Um músculo sequer. Parecia mesmo não tê-la ouvido. Sua súplica era verdadeira. Talvez seu desejo não tenha sido expressado muito bem. Ela repetiu novamente que deveriam se casar. Que não sabia mais o que fazer. Que pensava na outra dia e noite. Que queria possuir seu corpo, sua vida, seu ar muito mais do que aquilo. Tão efêmero, pensou. Tão aguardado. É um pedido, ela disse. Devo publicar no jornal, pensou?

Finalmente os lençóis se mexeram. A outra contemplou seus olhos. Não os olhou profundamente. Em silencio, desviou os olhos. A barreira foi ultrapassada. O céu é o limite.





terça-feira, 5 de maio de 2009

Capítulos

- E numa manha nublada e fria ela foi embora. Arrumou suas coisas e disse que ia pra casa de uma amiga. Eu bem que sempre desconfiei daquela amiga, mas fazer o que? Disse que não dava, que o problema era com ela, não comigo. Até pensei que poderia consertar.

....

Ela era uma mulher maravilhosa. Mas não conhecia bem seu potencial. Ou estamos falando de limites? Eu disse que poderíamos viajar ou pegar o carro e sumir. Minhas intenções sempre foram verdadeiras. Mas o caminho que nós tomamos talvez não.

....

Depois os dias se tornaram iguais. Um dia após o outro me diziam, Né? Eu queria telefonar e dizer que ela poderia me chamar a qualquer hora, mas aos poucos compreendi que não adiantava. Nunca as letras de uma música fizeram tanto sentido. Ela roubou o meu coração. E não devolveu mais.

- E assim você veio parar aqui, ahn?
- É. A história de uma vida né?

Levantamos com as mochilas nas costas e continuamos o caminho.