domingo, 11 de janeiro de 2009

Bárbara

1

Quando em dúvida, aplique álcool. Foi a primeira coisa que pensei com ela ali, sentada, aos prantos no sofá de minha casa. Estava ali para ser ouvida e dividir a sua dor. Caminhei até o armário, saquei uma garrafa de Jack Daniels e servi uma dose caprichada, com bastante gelo. Ela não havia pedido, mas eu estendia minha mão em sua direção. Impossível não aceitar, pensei. É praticamente um remédio ao coração quebrado e, agora solitário, que jazia sobre o meu sofá.

Sentei-me ao seu lado, orelhas atentas para ouvi-la. O primeiro gole lhe rendeu uma careta, mas alguns segundos depois ela parecia pronta pra despejar tudo o que sentia. E eu pronta para ouvir.

Obviamente que seus sentimentos não se voltavam para mim. Por mais que eu desejasse que fosse isso mesmo. Que ao invés de ela estar ali sentada chorando pelo seu amor perdido, que estivesse em desespero tentando me contar aquilo que lhe oprimia: seu desejo por mim. Mas isso jamais aconteceria. Assim eu pensava.

E ela falava. As lágrimas haviam se controlado. Eu a deixei falar. Observava o movimento de seus lábios, o sofrimento de seu coração e pensei comigo mesma que pequeno grande desperdício. Eu a faria tão feliz se pudesse...

- Você não acha?
Despertei de repente. Ela me encarava. Obviamente havia feito uma pergunta. E, elementar meu caro Watson, eu não havia ouvido. E ela havia percebido.
- Eu disse que não tem como voltar. Você não acha?
Deus pai. Aquela mulher maravilhosa ali, sentada no meu sofá com as pernas cruzadas, o nariz vermelho e o copo no meio, segurando com as duas mãos. Eu ali, do outro lado, no outro sofá, com outros pensamentos, desejando-a mais do que nunca. E ela me faz uma pergunta dessas.

- Olha, eu acho que é bem complicado. Mas se você gostar dela, tem que dar uma chance, né? Mudanças são sempre tão difíceis. – ótimo. Adoraria ter dito que se danem os nós, larga de mão essa criatura e vamô ser feliz.

E ela desandou a falar de novo. Enumerou todos os contras do seu relacionamento com argumentos bastante científicos para provar suas teses. E eu viajei de novo pela possibilidade de chamá-la pra jantar e terminar com aquele lindo corpo em meus braços. Resolvi tentar, porque não?

- Bárbara, quem sabe a gente sai pra comer algo? – acho que fui tão resoluta em meu tom de voz que ela me olhou surpreendida. Surpreendida, surpresa, nervosa de repente, não sei.

Me levantei, estendi minha mão em sua direção. Desta vez não carregava nenhum copo. Ela estendeu a dela que se encostou amavelmente na minha. A puxei dali e lhe dei um abraço forte. Em seu ouvido sussurrei fica tranqüila menina. Tudo vai dar certo. Deixa eu cuidar de você.

E com essa saímos pra jantar. E eu ainda segurava sua mão.

3 comentários:

Anônimo disse...

Acho todas nós já passamos por isso uma vez ou outra na vida.Como é difícil,não?Beijinhos.

Isa Zeta disse...

"Deixa eu cuidar de você."

Ando imaginando o dia em que vão me falar isso. De verdade.

Morgana disse...

Muito tempo sem vir aqui por falta de tempo e encontro como sempre textos muito agradáveis...espero que esta história termine bem...para bem das duas...da que cuida e da que é cuidada!

Um beijo